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Piloto com mais de 20 mil horas de voo nunca desistiu

Por Emerson Fernandes | Publicado em 30/03/2017 às 21h17 | Atualizado em 30/04/2017 às 14h30

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"Eu nunca pensei em ser outra coisa. Faria tudo de novo, tranquilamente. Não me vejo fazendo outras atividades como me vejo voando", diz o piloto de linha aérea Ruy Lange Filho, ao refletir sobre a carreira que escolheu. Já são mais de 20 mil horas de voo e 38 anos de experiência pelos céus do mundo inteiro.

Aos 54 anos, ele não quer aposentar e diz ainda estar encantado pela profissão como quando começou aos 17 anos.

"Tem até uma brincadeira que diz que o menino falou assim 'quando eu crescer eu quero ser piloto' e aí a mãe falou assim 'ou um ou outro', porque os dois não dá", brinca.

Vida de piloto

Ruy, que é natural de São Paulo, mas mora desde 1986 em Campinas (SP), lembra que começou ainda muito jovem na aviação executiva e depois migrou para a comercial.

"A gente começa com aviões pequenos [...] Você vai acumulando horas até você ter um número razoável de 200 horas, que é possível você já tirar a carteira de piloto comercial. Na comercial, estou desde 1989", conta.

Ruy explica que os empecilhos para ser piloto naquela época e hoje são, praticamente, os mesmos.

"Depende do mesmo número de horas, depende de treinamento, isso não mudou nada, os treinamentos são caros. [...] a base da carreira de piloto é a disciplina. Tem que estar disposto a passar por essas dificuldades, essas seleções naturais que vão ocorrendo ao longo da carreira", pontua.
Jornada

Entre as dificuldades, Ruy, pai de três meninas, conta que uma delas é conseguir conciliar a profissão com a vida pessoal, já que a escala de trabalho varia bastante.

"Temos uma escala na qual você pode voar desde três dias, dois dias ou até seis dias e, dentro desses dias, você alterna horários. Um dia você está voando na madrugada, outro dia você está voando à tarde. Então, a gente acaba se acostumando. Com o tempo você se adapta e a família também", divulga.

Ele destaca ainda que precisa de tempo para conseguir conciliar agenda de trabalho com festinhas de escola e feriados em família e seus hobbies, que são tocar bateria e andar de moto.

"Eu até consigo organizar com uma certa antecedência, eu posso pedir pra empresa e ela me concede folga, mas nem sempre eu consigo e aí preciso contar com a sorte", ressalta

O piloto ainda ressalva que, ainda, que o tempo de voo no mês gira em torno de 85 horas, mas de trabalho são 176 no total, o que inclui também momentos na reserva e treinamentos.

"Eu opero um determinado tipo de avião, o A-320. Nesse caso, eu vou onde esse avião vai. Se o avião vai para Salvador, Manaus, Santiago, onde ele for a gente vai. Então, você não tem uma rota fixa", conta.

Inteligência emocional

Além de flexibilidade, segundo Ruy, os pilotos precisam de inteligência emocional e bom humor para conseguir se manter na carreira. "A gente acaba lidando até melhor com as partes mais difíceis da profissão de uma forma bem humorada. Senão, a gente não sobrevive. A inteligência emocional é fundamental para os pilotos hoje", afirma.

Ainda segundo ele, isso é necessário porque não dá para separar a vida pessoal da profissional. "Nós somos seres humanos, a gente sabe, filho doente, problemas financeiros, mexe, não tem jeito. Então, a gente toma muito cuidado e procura desenvolver ferramentas para não deixar que essas situações interfiram no nosso julgamento", pontua.

Por isso, segundo ele, uma das características do piloto é ser resiliente.

"Tem que permanecer focado, aconteça o que acontecer", destaca.

A vontade de ir para a casa, por exemplo, não pode interferir na segurança do voo. "Você tá na última jornada de voo, você tá louco pra chegar em casa, seu filho tá esperando. Aí, fecha o tempo, o que vou fazer- Forçar uma aproximação- Não, vou ter que ir embora, ir para outro lugar, alternar, mas não posso deixar aquilo ser maior que a minha responsabilidade", detalha.

Além disso, Ruy informa que é preciso desmistificar a ideia de que o piloto é um super-herói e que ele age sozinho.

"Não existe aquele piloto super-herói, isso hoje não cabe mais dentro da atual realidade. Nós formamos um time.[...] Os aviões são muito precisos, os pilotos automáticos são muito seguros, isso traz para a gente uma melhoria no gerenciamento", pontua.

Mas, o piloto salienta que em algumas situações é preciso tomar decisões importantes e que são soberanas na equipe.

"Claro, já chamei Polícia Federal por indisciplina, mas são coisas inerentes à profissão. Eu chego a fazer 40 a 50 voos no mês, claro que uma hora ou outra pela quantidade sempre um probleminha vai dar [...] Eu sou um cara de muita sorte. Eu não tive assim muitos eventos onde precisei colocar todo meu conhecimento em uso", explica.

Planos

Ruy expõe que o maior avião que já pilotou foi o MD11, mas que deseja, ainda, experimentar o A-380.

"É óbvio que todo piloto queria voar máquinas como essa (A-380), como jumbo (Boieng-747), que é um clássico. Não tem piloto que não queira. Mas, nem sempre vai ser possível", argumenta.

Apesar de não saber ainda quando vai parar de voar, Ruy afirma que é preciso planejar também esse momento para aproveitar um pouco da vida em terra firme.

"Eu queria fazer uma transição tranquila e não parar assim com tanta idade porque eu queria aproveitar essa fase final com um pouco de saúde e resistência para viver a vida", finaliza.

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