Dez mil migrantes são contratados regularmente na Alemanha: essa é a meta estabelecida pela equipe de jovens de TI da Migrant Hire, grupo que é composto, também por Hussein Shaker, um refugiado de Aleppo, na Síria. Trata-se do primeiro portal de emprego que visa explicitamente aqueles que fugiram para a Alemanha, escapando da perseguição política ou da desesperança econômica.
A ideia é simples: os refugiados são ajudados ao escrever currículos e cartas de candidatura e divulgam suas aptidões no portal, enquanto os empregadores podem pesquisar no banco de dados o tipo de pessoa de que precisam ou anunciar novas oportunidades.
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"Há muitas empresas abertas aos refugiados e que querem lhes dar uma chance, mas têm dificuldade até de estabelecer contato com eles", conta o chefe do departamento de recrutamento da Migrant Hire, Stefan Perlebach.
"Damos às empresas a chance de encontrar alguém adequado. Por outro lado, os refugiados muitas vezes não dispõem de uma rede de amizades aqui na Alemanha, nem do conhecimento sobre o que se espera de um candidato a emprego, e nós tentamos lhes oferecer orientação."
O projeto começou a cerca de um ano atrás, quando o empresário e ex-executivo finlandês Remi Elias Mekki conheceu Shaker. Eles testaram a ideia de fazer agenciamento de emprego para refugiados no círculo de amizade de Shaker, e logo a Migrant Hire estava funcionando num prédio de escritórios compartilhados em Berlim.
O portal ainda tem muito a progredir, até conseguir atingir sua meta. Perlebach comunicou que a Migrant Hire só ajudou entre 150 e 160 refugiados a encontrar uma vaga ou entrar em programas de trainee. "Fomos muito ambiciosos ao formular nossos objetivos no início", admite Perlebach. "Mas é bom sonhar alto."
Perlebach acredita que a carência de mão de obra na Alemanha vá encorajar a contratação de um grande número de migrantes. E as estatísticas mais recentes sustentam sua ideia.
Preenchendo uma lacuna
De acordo com estudo do Instituto de Pesquisa Econômica de Colônia (IW), publicado em 30 de novembro, os estrangeiros representam 16,6% dos trabalhadores da Alemanha com alta qualificação nas importantes áreas de matemática, TI e ciência e tecnologia, conhecidas na Alemanha pelo acrônimo MINT. O estudo também mostra que 13% dos empregados com menor qualificação nos setores MINT vieram do exterior.
A Alemanha não conseguirá preencher em 2016 as 210 mil vagas de trabalho MINT - um aumento de 9% em relação ao ano anterior. Não há jovens suficientes para substituir os mais velhos que se aposentam. Thomas Sattelberger, ex-executivo da Telekom e atual presidente de uma iniciativa privada para promover as matérias MINT nas escolas, alega que seria muito pior sem a chegada de novos imigrantes. "Isso nos ajudou muito nos últimos anos", afirmou Sattelberger à emissora pública alemã ARD.
O estudo de Colônia também mostra um progresso surpreendente na integração de refugiados da Síria e do Afeganistão em vagas MINT. Pesquisadores acham que até 2020 cerca de 40 mil desses migrantes podem conseguir emprego na Alemanha em vagas técnicas. Porém, há um alerta que o Leste alemão enfrenta grande desvantagem competitiva em relação ao resto do país, por não conseguir atrair um número significativo de estrangeiros.
Alguns estudo recente do estado de Brandemburgo, no Leste, demonstrou que refugiados têm uma melhor oportunidade em se integrar se forem alocados em áreas em que há falta de mão de obra - exatamente o tipo de serviço oferecido pelo Migrant Hire.
"Seja leste ou oeste, eu vejo isso como um investimento no futuro", disse Perlebach. "Para mim, é relativamente claro que, quanto mais tempo investimos nas pessoas agora, mais provável é que elas sejam capazes de se sustentar economicamente. Os que vêm de regiões em crise não são todos médicos, engenheiros e especialistas em TI, mas há muitos jovens, e eles podem ser igualmente bem integrados na sociedade."
Cortando a burocracia
Perlebach reconhece que "é preciso tempo para treinar gente que não fala uma palavra de alemão". Em alguns casos, entretanto, é necessário apenas conseguir emprego para um refugiado com um pouco de ajuda com a notória burocracia alemã.
Entre os clientes do Migrant Hire, Perlebach salienta-se a história de Bahjat al Mostafa. O programador de 33 anos saiu da Síria para a Turquia em 2013, chegando a Berlim em novembro de 2015, via Grécia, depois de sobreviver a uma perigosa travessia do Mar Mediterrâneo num barco superlotado.
Após meses de espera em um abrigo de refugiados, Mostafa recebeu ofertas de trabalho de duas empresas de TI, mas ele não podia aceitar por estar oficialmente proibido de ser empregado na Alemanha. "Ele ficou muito decepcionado e deprimido, passava o tempo livre na biblioteca, lendo, e fez tudo o que pôde, mas legalmente lhe era negada a chance de conseguir emprego."
Perlebach contatou o departamento de imigração de Berlim, mostrando um contrato de trabalho assinado entre Mostafa e a empresa de TI Rocket Internet, e Mostafa obteve uma exceção à interdição.
"Ele ficou extremamente feliz", disse Perlebach. "Ele realmente não acreditava que as coisas iam dar certo, e certamente não tão rápido como deram. Nós levamos cerca de duas semanas e meia cuidando de tudo, acho."
Para ter uma permissão de trabalho na Alemanha pode ser algo difícil de conseguir, principalmente para quem tenha pouca experiência com a língua e a cultura burocrática alemã. No caso de Mostafa, fornecer, de antemão, um emprego a um refugiado ajudou a cortar o caminho da burocracia. Uma empresa alemã conseguiu o empregado que precisava, e Migrant Hire ficou um passo mais perto de alcançar seu ambicioso objetivo de conseguir emprego para refugiados em 10 mil vagas do mercado de trabalho nacional.
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