Traci Fiatte cehca seus emails no domingo à noite. Para ela, isso a ajuda a começar a semana à sua frente.
Mas a empresária e presidente da agência de empregados Randstad percebeu há cinco anos que suas tendências workaholic tinham resultados negativos em seus funcionários.
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"Percebi que muitos deles não almejavam uma promoção por medo de comprometer suas vidas pessoais - algo que eu estava fazendo", conta.
Assim como ela, muitos de nós estamos cada vez mais conectados ao trabalho em momentos em que deveríamos curtir nossas horas de lazer.
Em uma pesquisa da Associação Americana de Psicologia (APA, na sigla em inglês), feita em 2013, mais da metade dos entrevistados contou que checa suas mensagens de trabalho pelo menos uma vez por dia durante os finais de semana, férias ou até quando estão afastados por licença médica.
Mas para David Ballard, diretor-executivo de excelência organizacional da APA, nem sempre esse hábito é prejudicial.
Muitos dos mesmos entrevistados na sondagem se disseram satisfeitos com a capacidade de combinar a carreira com a vida pessoal. Cerca de 71% revelaram estar em controle sobre suas horas de trabalho, enquanto 56% contaram que a tecnologia os ajuda a cumprir suas tarefas.
"Esse aspecto positivo foi uma surpresa", diz Ballard. "As pessoas relataram uma maior produtividade, mais flexibilidade e uma facilidade maior de concluir seus afazeres."
Chris Hale, fundador da empresa de contabilidade Kountable, declara não se importar em se manter a par dos assuntos do escritório durante as férias porque isso o permite manter o negócio em andamento enquanto ele curte a companhia dos amigos e familiares.
No ano passado, durante férias a bordo de um iate, ele atendeu uma chamada de um investidor. Sem um lugar tranquilo para conversar, acabou se instalando em um dos botes salva-vidas.
"Acho que ficaria louco se tivesse que trabalhar nos 'horários normais'", diz.
Estar disponível a todo momento faz com que algumas pessoas se sintam cruciais para a empresa, segundo o coach de carreiras Craig Dowden, de Toronto, no Canadá.
"Para esses indivíduos, aquela luzinha piscando no celular significa 'sou importante'. É uma massagem no ego", afirma.
Além disso, avalia Fiatte, muitos jovens trabalhadores gostam do imediatismo e preferem responder às mensagens assim que as recebem.
Alguns profissionais se sentem importantes quando requisitados fora do horário convencional.
Uma das diferenças entre sentir-se sobrecarregado ou tranquilo com a cultura do "plantão permanente" pode estar no fato de se sentir responsável pela empresa.
Quando Tom Cridland começou sua grife em Londres, há 24 meses, ele sentia que nunca podia desligar. "Eu dava uma enorme atenção a cada email recebido, mesmo que fosse sábado à noite", lembra.
Somente quando sua namorada se juntou a ele como sócia, Cridland começou a sentir um equilíbrio maior entre a vida pessoal e o trabalho.
Para outras pessoas, no entanto, estar sempre à disposição é algo que aparentemente todo chefe quer que ocorra.
"Cabe às empresas reforçar ou não a mensagem de que seus funcionários devem estar sempre conectados", reconhece Dowden.
Como a tecnologia nos possibilita trabalhar de qualquer lugar, a qualquer hora do dia, há muitas dúvidas em relação ao que é um dia "típico" de trabalho.
Um problema é aquele chefe que manda emails durante as horas de descanso, sem dizer quando precisa da resposta.
Nessas situações, tendemos a imitar o comportamento dos superiores. E com a pressão por desempenho, o trabalho em colaboração com países de diferentes fusos-horários e uma nova geração de funcionários dispostos a ignorar os limites entre carreira e lazer, a expectativa de que devemos estar em plantão permanente só tende a crescer.
Em 2014, 42% de trabalhadores entrevistados na pesquisa da Randstad diziam se sentir na obrigação de verificar seus emails durante as folgas; 45% se disseram compelidos a responder a uma mensagem dentro de poucas horas; 47% não se sentiam culpados de trabalhar mesmo doentes.
Um estudo da mesma empresa realizado um ano depois revelou que cerca de 30% dos trabalhadores tiveram que cancelar suas férias planejadas por causa do trabalho.
Mas a verdade é que estar disponível a todo momento talvez não precise ser indispensável.
Quando Fiatte percebeu que seus emails fora de hora assustavam os funcionários, iniciou um esforço com sua equipe de gerentes para que todos fossem mais claros sobre quais mensagens são urgentes.
Ela ainda trabalha nos domingos à noite, mas só manda emails na segunda-feira de manhã. Quando trata-se de uma emergência, a empresária simplesmente faz alguns telefonemas.
Além disso, hoje Fiatte incentiva abertamente seus funcionários a se desconectarem em suas férias.
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