O país vem perdendo vagas de trabalho, mas o número de pessoas com deficiência (PCDs) com carteira assinada está aumentando. A categoria tem mais 22 mil empregos em 2015 - 5,75% a mais que no ano anterior, mostram os últimos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).
Entretanto, 1,5 milhão de vagas formais no país tem desapareico, incluindo temporários, contratados por CLT e servidores públicos. Mais presentes nas empresas, os portadores de deficiência representavam, ainda assim, apenas 0,84% dos 48,1 milhões do total de vínculos de empregos.
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Especialistas afirmaram que uma maior fiscalização ao cumprimento da lei de cotas ajudou no aumento das contratações. A lei de cotas requer que toda empresa com 100 ou mais empregados preencha 2% a 5% de seu quadro com pessoas com deficiência.
Ricardo Vieira, de 23 anos, foi contratado em janeiro do ano passado pela empresa farmacêutica Galderma. A ausência do antebraço direito nunca atrapalhou o desempenho em suas funções como analista de suporte a treinamento. -Sou cobrado como qualquer outro funcionário. Não existe essa superproteção por causa da minha deficiência-.
A analista de eventos da mesma companhia, Luciana Araújo, de 45 anos, tem neuropatia periférica, foi contratada em 2003 quando já estava para desistir. -Eu estava desempregada há mais de um ano e ia todos os dias para o centro da cidade levar meu currículo. Fiz centenas de entrevistas-, conta.
Quando visitou o prédio da Galderma, pensou que seria frustrante. Foi então que soube sobre uma vaga aberta na área de atendimento ao consumidor e se candidatou. Só a chamaram para ser entrevistada três meses depois. Quando começou a trabalhar, a empresa adaptou um banheiro de deficientes para a funcionária, que é cadeirante.
A Galderma aumentou em quatro vezes o número de empregados com necessidades especiais nos últimos 10 anos, enquanto o número total de funcionários, cerca de 500, dobrou no mesmo período. A empresa ainda comentou que os trabalhadores com necessidades especiais representam 3% da sua equipe.
O número de empresas notificadas pelo governo por descumprimento da lei de cotas tem um aumento de quase 40%, segundo um levantamento do MTE. Foram 4.550 autos de infração em 2015, contra 3.277 em 2014. Entre 2010 e 2015, esse número saltou 248%.
A especialista em relações do trabalho Zilmara Alencar alega que o aumento pode ser resultado de uma força-tarefa que o governo montou para fiscalizar as empresas. A multa por descumprimento da lei equivale ao salário mínimo legal do empregado que não foi contratado, multiplicado pelo número de funcionários da empresa.
As empresas costumam firmar um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) estabelecendo um prazo maior para evitar a penalidade. Em alguns casos, a auditoria pode pedir que o Ministério Público do Trabalho abra uma ação judicial contra a empresa.
Segundo o Ministério do Trabalho, a maior parte das empresas que não cumprem a lei, alegam alto custo para adaptar o ambiente de trabalho e a dificuldade em encontrar profissionais qualificados para as vagas.
A advogada do escritório Mesquita Barros e mestre em direito do trabalho Marcia Regina Pozelli, diz que essa alegação é frequente. -Muitas empresas possuem funções que não comportam a contratação de funcionários com deficiência, como nos ramos de segurança e manutenção de energia-, observa ela.
Tribunais do trabalho não tem punido empresas que conseguem provar que se esforçaram para cumprir a lei de cotas, mas não encontraram profissionais aptos a preencher as vagas, lembra Zilmara.
O país tem um contingente de pessoas com alguma deficiência bem maior que o número de vagas abertas a esse público. Segundo o MTE, havia 827 mil oportunidades em 2014 (dados mais recentes da Rais) para 9,3 milhões portadores de deficiência entre 15 e 60 anos.
Ricardo, que trabalha na Galderma, acredita que o recrutador acaba preferindo contratar pessoas com deficiências mais leves, ao esbarrar na questão da mobilidade. -Dependendo do grau da deficiência, aumenta o problema de locomoção", comenta.
Para a analista de eventos Luciana, não é por falta de lei que deficientes não conseguem encontrar emprego formal. -A lei não vai obrigar a empresa a contratar um cadeirante. Portadores de deficiência visual e cadeirantes têm mais dificuldade em encontrar trabalho, muitas vezes porque o custo para adaptar o ambiente é maior-, diz.
O Tribunal Superior do Trabalho (TST) decidiu que o empregador tem poder de escolha na seleção de seus funcionários.
Os deficientes visuais são maioria entre os PCDS no país, totalizando 7,2 milhões de pessoas, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em seguida, pessoas com deficiência física somam 2,6 milhões, auditiva, 2,2 milhões e intelectual, 1,6 milhão.
Zilmara acredita que a lei de cotas poderiam permitir a contratação de mais pessoas e reduzir a dificuldade de preencher vagas. -Uma solução seria aplicar a cota não sobre o total de funcionários da empresa, mas por área de atuação, para evitar divergências-, afirma.
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